A Ex-doméstica que se tornou Ministra do Tribunal Superior do Trabalho
Nova ministra do TST traz
experiências de movimentos sociais
Ao tomar
posse na tarde de hoje (24/3) no Tribunal Superior do Trabalho (TST), a
ministra Delaíde Alves Miranda Arantes passa a fazer parte do Tribunal Superior
com o maior número de mulheres em sua composição. Com trajetória combativa,
acredita que os 30 anos de militância como advogada na seara trabalhista e a
participação em movimentos sociais serão importantes ferramentas para o
exercício da magistratura. Sua história de vida inclui o trabalho como
empregada doméstica para custeio dos estudos, e uma firme disposição de se
entregar à prestação jurisdicional com a mesma garra, e felicidade, com que se
entregou a todas as atividades que realizou em sua vida. Confira a entrevista
realizada com mais nova integrante do órgão de cúpula da Justiça do Trabalho.
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| Ministra Delaide Alves Miranda Arantes |
A senhora poderia descrever como um programa de
incentivo a jovens da zona rural ajudou-a a ampliar suas perspectivas?
Foi uma
experiência muito interessante. Eu tinha 13 para 14 anos, e meu pai tinha uma
avaliação de que não poderia levar os filhos para a escola, para estudarem.
Somos nove irmãos, e ele já se preparava para colocar os filhos na zona rural
mesmo. Aí surgiu um programa estadual, o 4E, que apresentava palestras,
mostrava os direitos das pessoas, ensinava os valores dos nutrientes. Era um programa
multidisciplinar, e nós começamos a participar. Havia um incentivo muito grande
dos extensionistas, que eram os líderes, para que nosso pai nos levasse para
estudar.
Quando eu
tinha 14 anos, aconteceu um congresso no Rio de Janeiro, e o prefeito da cidade
teve que intervir porque meu pai não queria me deixar ir de jeito nenhum. Eu
não conhecia a capital do meu estado (Goiás), imagina ir ao Rio de Janeiro. O
congresso foi no Colégio Batista da Tijuca, no Rio de Janeiro, com
representantes de 14 países e 21 estados do Brasil. E eu lá, uma moradora da
zona rural, com 14 anos de idade, no palanque, fazendo discurso. A única coisa
que eu defendia naquela época era que deveria ter uma faculdade no meio rural. Tudo isso
incentivou papai a mudar para a cidade, Pontalina, para que pudéssemos estudar.
Foi dessa época sua experiência como empregada
doméstica?
Cidade
pequena tem poucas oportunidades de trabalho. Trabalhei como doméstica em duas
ocasiões: em Pontalina, por ocasião da minha mudança, e depois, em Goiânia,
pela mesma razão, que era custear meus estudos.
Qual a expectativa da senhora na véspera de assumir
o cargo de ministra do Tribunal Superior do Trabalho?
Eu
considero que estou no TST por aquilo que é o objetivo do quinto
constitucional: a experiência do campo, a experiência da advocacia, a
experiência de ter trabalhado como doméstica, de ter morado no meio rural. Eu
não trago a experiência somente da advogada trabalhista, mas de tudo o que
vivenciei.
Existe algum tema dentro do TST que a senhora
considere mais relevante, que a atraia mais?
Eu
considero o papel do TST junto à sociedade muito relevante, não tenho uma
preferência específica por tema. Sinto-me honrada por fazer parte do órgão
máximo da Justiça do Trabalho. Estou me esforçando para que a Justiça do
Trabalho se torne cada vez mais célere e que o TST se aproxime cada vez mais da
sociedade.
Como o TST pode contribuir hoje com a modernização
das relações de trabalho e as novas tecnologias?
O direito
é dinâmico. A Justiça do Trabalho lida com o direito do trabalho e com o
direito processual do trabalho. O julgador atua a partir da compreensão de que
o direito e a sociedade são muito dinâmicos. Quanto aos mecanismos modernos, é
preciso que observem as garantias fundamentais, o direito mínimo a ser
assegurado ao trabalhador.
A senhora se considera militante na causa
feminista?
Na
verdade, há um limite tênue entre as nossas causas e a causa feminista. Sou
vice-presidente da Associação Brasileira das Mulheres da Carreira Jurídica e
também faço parte do Conselho Estadual da Mulher, em Goiânia.
A senhora acha que a representatividade da mulher
nos órgãos de cúpula é ainda pequena?
O TST é hoje o Tribunal Superior com o maior número de mulheres na sua
composição. Somos seis. Essa representação vem crescendo, embora ainda seja
incipiente. Tem, inclusive, uma campanha da Secretaria Nacional da Mulher que
se intitula: “Mais Mulher no Poder”. Eu assumo esta bandeira. Mas as mulheres
não desistem nunca (risos).
Fonte: Notícias do Tribunal Superior do Trabalho:
http://ext02.tst.gov.br/pls/no01/no_noticiasNOVO.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=11986&p_cod_area_noticia=ASCS

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